sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Encerrando Ciclos


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão

Autor: Fernando Pessoa










terça-feira, 20 de setembro de 2011

A palavra

Interessante este texto de Martha Medeiros. Resolvi postar um trecho que achei legal.


Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda: eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num mundo com menos obstáculos.
A palavra, que ferramenta.
É uma pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso. Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais emperradas, que ela facilita negociações, encurta caminhos, cria laços, aproxima pessoas. Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por falar... mas não conversam, não usam a palavra como elemento de troca. Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica, qualquer palavra lhes serve.
Mas não. Não serve qualquer uma.
A palavra exata é um pequeno diamante. Embeleza tudo: o convívio, o poema, o amor. Quando a palavra não tem serventia alguma, o silêncio mantém-se no posto daquele que melhor fala por nós.


Martha Medeiros
Fonte: Revista  O Globo (de domingo - 18/09/2011) - Pág. 28

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Graça Comum (Sobre música)

Muitos cristãos não ouvem músicas que não são evangélicas. Acham que qualquer música que não é evangélica, é do diabo. Na verdade, existe muito preconceito e opiniões equivocadas. É necessário que o cristão analise sempre todas as coisas com muito cuidado e bom senso; e é claro, à luz da palavra de Deus. Bem, vamos aqui analisar e refletir juntos a respeito de alguns pontos.
Deus deu aos homens virtudes como: inteligência, talento para arte, literatura, música, invenções, etc. Pois bem, não só os que conhecem a Deus possuem virtudes, (que também podemos traduzir como: dons, aptidões, habilidades); mas, também os que nem mesmo creêm em Deus, possuem tais virtudes. E toda virtude ou dom, procede de Deus (Tiago 1:17). Isso se chama "graça comum". A graça comum é a fonte de toda cultura, dons e talentos que os homens possuem.
 A Bíblia nos diz em  Mateus 5:45 que o sol nasce sobre o justo e o injusto, e a chuva cai sobre  bom e o mau. Isso porque Deus concede aos homens graça comum. Através da graça comum, Deus dá aos homens inúmeras bênçãos, mas, que não são parte da salvação. A palavra comum aqui, significa algo que é dado a todos os homens, e não somente aos que creêm em Deus. Por exemplo: a saúde, dons, prosperidade e inteligência em geral.
Graças a Deus por Ele dar sabedoria e dons aos homens. É por isso que podemos, por exemplo, nos beneficiar dos efeitos de vacinas contra a pólio, sarampo... e tantas outras doenças. Muitos desses homens; os cientistas que criaram tais vacinas, não eram cristãos.
Fazemos cirurgias ou tratamentos com excelentes médicos; apreciamos arquiteturas... prédios que são verdadeiras obras de arte; desfrutamos de "pratos" criados por "Chefs" que são verdadeiros artistas na cozinha, etc.
Agora vamos refletir:


__ Será que todas essas pessoas são cristãs?
__ Será que só consumimos, apreciamos, desfrutamos e tocamos em coisas feitas por cristãos e para cristãos?
Concordo plenamente com o pastor e escritor Renato Vargens quando ele diz em seu Blog: "Não há sabedoria e beleza que não venham de Deus. Foi Ele quem idealizou a música, a arte, a poesia, a festa e a cultura".
O que acontece é que muitas vezes o homem não usa a sabedoria dada por Deus, ou o que é pior, usa para fazer o que é mau. Infelizmente, isso acontece em todas as áreas. Há muitas coisas más no mundo, e inclusive músicas que não servem para nada. Além de qualidade discutível, pra não dizer ruím, muitas são medíocres, muitas "emburrecem" as pessoas, e outras incentivam a imoralidade e a violência.
Mas também há música boa. E outra vez concordo com Renato Vargens quando diz (em seu Blog, em diversos textos sobre música), que "tanto a poesia, como as formas variadas da arte, são expressões vivas da multiforme sabedoria de Deus"  e  :  " é impossível negar a ação de Deus entre os homens ao ouvir clássicos da música como 'One' do U2, ou 'Miss Sarajevo', onde Luciano Pavarotti leva qualquer um às lágrimas com  sua participação especial". Renato Vargens ainda afirma: "(...) a música, a arte e a poesia são presentes  de Deus à humanidade."
Outro ponto a ser pensado é que os cristãos não conversam apenas sobre coisas espirituais (sobre louvor, adoração e assuntos bíblicos). A saúde, a educação, a política, a natureza, a família, o amor de um homem e uma mulher, a amizade, são coisas que fazem parte da vida, e os cristãos ouvem e falam sobre esses assuntos. Então por que uma música que fala sobre essas coisas não pode ser ouvida ou cantada? Por que muitos ainda insistem em que só se pode ouvir e cantar músicas que louvam a Deus?
Quando você canta o Hino Nacional ou o Hino à Bandeira, é música que louva a Deus? Muitos cristãos cantam o famoso "Parabéns pra você"; mas, essa música é para o louvor a Deus?
Sinceramente, quando ouço uma música como a do Mílton Nascimento, que fala de amizade, não consigo ver pecado nisso.
"Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito".


Vejam ainda este trecho da música de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, que se intitula: "Juízo Final" :


“O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o Juízo Final, a história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer”

Quero citar mais uma vez Renato Vargens, que num trecho de uma postagem de seu blog, diz: "Não consigo ver determinadas manifestações musicais ou culturais como satânicas ou malígnas, antes, pelo contrário, a multiforme manifestação cultural no ser humano, aponta diretamente para um Deus generoso que é absolutamente  apaixonado pela arte, música e cultura".

Bem, mas há muitos cristãos que definitivamente não aceitam músicas que não são as chamadas músicas evangélicas e as que não são feitas por evangélicos... embora haja muita contradição no meio evangélico. Muita gente não ouve música que não seja "da igreja", mas, adora assistir filmes românticos, de ficção ou ainda novelas e mini-séries.
Agora...para aqueles que ouvem músicas "seculares", acho que há que se ter bom senso, ou podemos dizer senso crítico. Como falei anteriormente, acho que nem todo tipo de música é apropriada. Devemos ser cristãos equilibrados.
Respeito a decisão de cristãos que ouvem somente músicas consideradas cristãs. Cada um deve ter suas opiniões e certezas respeitadas. A bíblia nos diz que não devemos desprezar ou condenar os irmãos.
"Portanto, por que é que você condena seu irmão? E você, por que despreza  seu irmão? Pois todos nós estaremos diante de Deus, para sermos julgados por Ele.(...) Assim, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. Por isso, paremos de criticar uns aos outros." Rom. 14:10-13.
A bíblia também nos diz que feliz é aquele que não é condenado pela consciência quando faz o que acha  que deve fazer. Porém aquele que tem dúvidas, peca, se o que faz não provém de fé; pois tudo o que não provém de fé é pecado.                     
Bem, para aqueles que têm dúvidas, deixo esse trecho da postagem:"Pensando a música secular (Parte II)", de Antognoni Misael em seu Blog "Arte de Chocar":

"Assim como jogar futebol e assistir um filme, ouvir uma música secular não é pecado, contanto que sua mensagem não fira as verdades de Deus e que se adéqüe ao que Paulo falou aos Filipenses 4.8: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, isso ocupe o vosso coração”. Existem bastantes músicas educativas, politizadas, encorajadoras e de reflexão para nossa vida comum, elas com certeza trazem no seu bojo os fundamentos cristãos. Há uma bela canção de Guilherme Arantes que diz: “eu desejo amar a todos que eu cruzar pelo meu caminho. Como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo”, e por aí vai. Muitas vezes ignoramos verdades ditas por não cristãos apenas por não se dizerem cristãos, enquanto muitas vezes ouvimos heresias nos conteúdos das músicas denominadas "gospel". Paulo disse: tudo é lícito, mas nem tudo me convém, e essa sutil escolha entre valer  a pena ou não, deve ser feita à luz da palavra – se te edifica, vai em frente, se não, então recue.
O conceito de secular é tão pouco explorado que se formos entender como aquilo que não traz em sua roupagem algo de religioso, constataremos que na própria Bíblia existe muito de “secular”, como por exemplo, o poema "secular" que Davi escreveu em homenagem a Saul e Jônatas em 2 Samuel 1.19-27, e alguns provérbios que apenas tratam de educação, moral, respeito, sem aparentemente fazer alguma menção direta a Deus. Muito embora em seu crivo permeiam os valores que são participantes da conduta correta da verdadeira forma de ser cristão.

As doutrinas da criação, queda e redenção precisam estar muito bem definidas na vida do cristão, e se mal interpretadas, com certeza toda percepção de arte será deturpada. E é isso que precisamos fomentar em nossas igrejas: pessoas preparadas para lidar com a arte da música,  e revertê-la para contextualização do evangelho e alcance de pessoas.
A música é um veículo de linguagem, que  pode ter inúmeras funções. A pessoa que tem o talento para música, seja ele músico, intérprete ou compositor, com certeza recebeu esse presente de Deus (Tiago 1.17), tendo esta pessoa conhecido a Deus ou não. (...) A criatividade é fonte que sai de Deus, e mesmo embora estando ela desfigurada pela herança adâmica não nos outorga abominar a sabedoria, criação e habilidade daquele que está longe de Deus. Ninguém pergunta se o dentista é crente antes de ser atendido, ou se o cozinheiro do restaurante é evangélico, ou se o arquiteto que construiu a casa onde se reside é um homem de Deus. E assim muitas vezes consumimos produtos de ateus ou  idólatras, o que não quer dizer que suas aptidões foram dadas pelo diabo.
Steve Tuner em Cristianismo Criativo (2000, p.91) escreveu: ' O mundo não está tão cheio de mal de modo que não possamos desfrutá-lo, nem tão cheio de bondade de modo que possamos abrir mão de nós mesmo em favor dele.'"




Deixo também  um trecho de um texto sobre a graça comum:

                                                   Graça  Comum

"(...) Podemos definir graça comum da seguinte maneira: Graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas bênçãos inumeráveis que não são parte da salvação. A palavra comum aqui significa algo que é dado a todos os homens e não é restrito aos crentes ou aos eleitos somente. Diferentemente da graça comum, a graça de Deus que leva pessoas à salvação é muitas vezes chamada “graça salvadora”. Naturalmente, quando falamos a respeito da “graça comum” e da “graça salvadora”, não estamos sugerindo que há duas diferentes espécies de graça no próprio Deus, mas apenas estamos dizendo que a graça de Deus se manifesta no mundo de duas maneiras diferentes. A graça comum é diferente da graça salvadora quanto aos resultados (ela não traz salvação), seus destinatários (é dada aos crentes e descrentes igualmente) e sua fonte (ela não flui diretamente da obra expiatória de Cristo, visto que a morte dEle não obtém nenhuma medida de perdão para os descrentes e, portanto, nem os crentes nem os descrentes fazem jus às suas bênçãos). 


B. Exemplos de graça comum


Se olhamos para o mundo ao nosso redor, podemos ver imediatamente a abundante evidência da graça comum de Deus em milhares de exemplos na vida diária. Podemos distinguir diversas categorias específicas nas quais essa graça comum pode ser vista.


1. A esfera física. Os descrentes continuam a viver neste mundo somente por causa da graça comum de Deus — cada vez que as pessoas respiram é pela graça, pois o salário do pecado é a morte, não a vida. Além disso, a terra não produz somente espinhos e ervas daninhas (Gênesis 3:18), nem permanece um deserto ressequido, mas a graça comum de Deus provê comida e material para roupa e abrigo, muitas vezes em grande abundância e diversidade. Jesus disse: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:44,45). Aqui Jesus apela para a abundante graça comum de Deus como encorajamento aos seus discípulos, para que eles também concedam amor e orem para que os descrentes sejam abençoados (cf. Lucas 6:35,36). Semelhantemente, Paulo disse ao povo de Listra: “No passado [Deus] permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo. Deus não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e um coração cheio de alegria” (Atos 14:16,17).
O Antigo Testamento também fala da graça comum de Deus que vem aos descrentes tanto quanto aos crentes. Um exemplo específico é o de Potifar, o capitão da guarda do Egito que comprou José como escravo: “o Senhor abençoou a casa do egípcio por causa de José. A bênção do Senhor estava sobre tudo o que Potifar possuía, tanto em casa como no campo” (Gênesis 39:5). Davi fala de modo muito mais geral a respeito das criaturas que o Senhor fez:
“O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas. [...] Os olhos de todos estão voltados para ti, e tu lhes dás o alimento no devido tempo. Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os seres vivos” (Salmos 145:9,15,16).
Estes versículos são outro lembrete de que a bondade que é encontrada em toda a criação não acontece automaticamente — ela se deve à bondade de Deus e Sua compaixão.


2. A esfera intelectual. Satanás é “mentiroso e pai da mentira” e “não há verdade nele” (João 8:44), porque lhe foi dado ter domínio sobre o mal e sobre a irracionalidade e comprometimento com a falsidade que acompanha o mal radical. Mas os seres humanos no mundo de hoje, mesmo os descrentes, não estão totalmente entregues à mentira, irracionalidade e ignorância. Todas as pessoas são capazes de ter um pouco de compreensão da verdade; de fato, algumas possuem grande inteligência e entendimento. Isso também deve ser visto como resultado da graça comum de Deus. João fala de Jesus como “a verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (João 1:9), pois, em seu papel como criador e sustentador do universo (não particularmente em seu papel como redentor), o Filho de Deus concede iluminação e entendimento que vêm a todas as pessoas no mundo.
A graça comum de Deus na esfera intelectual é vista no fato de que todas as pessoas têm certo conhecimento de Deus: “porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças” (Romanos 1:21). Isso significa que há um senso da existência de Deus e muitas vezes a fome de conhecer Deus que Ele permite que permaneça no coração das pessoas, embora isso resulte muitas vezes em muitas religiões diferentes criadas pelos homens. Portanto, mesmo quando falando a pessoas que sustentavam religiões falsas, Paulo pôde encontrar um ponto de contato com respeito ao conhecimento da existência de Deus, exatamente como fez quando falou aos filósofos atenienses: “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos [...] o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” (Atos 17:22,23).
A graça comum de Deus na esfera intelectual também resulta na capacidade de captar a verdade e distingui-la do erro e de experimentar crescimento em conhecimento que pode ser usado na investigação do universo e na tarefa de dominar a terra. Isso significa que toda ciência e tecnologia desenvolvida pelos não-cristãos é resultado da graça comum, permitindo-lhes fazer descobertas e invenções incríveis, para desenvolver os recursos do planeta na criação de muitos bens materiais, para produção e distribuição desses recursos e para alcançar habilidades na obra produtiva. Em sentido prático, isso significa que, cada vez que entramos em uma mercearia, andamos em um automóvel ou entramos em uma casa, devemos lembrar que estamos experimentando os resultados da abundante graça comum de Deus derramada tão ricamente sobre toda a raça.


3. A esfera moral. Pela graça comum Deus também refreia as pessoas de serem tão más quanto poderiam. Novamente o reino demoníaco, totalmente dedicado ao mal e à destruição, proporciona um contraste claro com a sociedade humana, na qual o mal é claramente refreado. Se as pessoas persistem dura e repetidamente em seguir o pecado durante o curso de sua vida, Deus finalmente as entregará ao maior de todos os pecados (cf. Salmos 81:12; Romanos 1:24,26,28), mas no caso da maioria dos seres humanos eles não caem nas profundezas às quais seus pecados normalmente os levariam, porque Deus intervém e coloca freio na sua conduta. Um refreamento muito eficaz é a força da consciência. Paulo diz: “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 1:32). E em muitos outros casos, essa sensação interior da consciência leva os indivíduos a estabelecer leis e costumes na sociedade que são, em termos da conduta exterior que eles aprovam ou proíbem, totalmente iguais às leis morais da Escritura. As pessoas muitas vezes estabelecem leis ou têm costumes que respeitam a santidade do casamento e da família, protegem a vida humana e proíbem o roubo e a falsidade no falar. Por causa disso, elas muitas vezes seguem caminhos moralmente retos e exteriormente andam conforme os padrões morais encontrados na Escritura. Embora a conduta moral delas não possa ganhar méritos com Deus, visto que a Escritura claramente diz que “diante de Deus ninguém é justificado pela Lei” (Gálatas 3:11) e “Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:12), contudo, em algum sentido menor que ganhar a aprovação ou o mérito eterno de Deus, os descrentes realmente fazem “o bem”. Jesus sugere isso quando diz: “E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os 'pecadores' agem assim” (Lucas 6:33).


4. A esfera da criatividade. Deus distribuiu medidas significativas de capacidade em áreas artísticas e musicais, assim como em outras esferas nas quais a criatividade e a habilidade podem expressar-se, como praticar esportes, cozinhar, escrever, e assim por diante. Além disso, Deus nos dá a capacidade de apreciar a beleza em muitas áreas da vida. E nessa área, assim como na esfera física e intelectual, as bênçãos da graça comum são às vezes derramadas sobre os descrentes até mais abundantemente que sobre os crentes. Todavia, em todos os casos, ela é resultado da graça de Deus.


5. A esfera da sociedade. A graça de Deus também é evidente na existência de várias organizações e estruturas na raça humana. Vemos isso primeiramente na família humana, ressaltado pelo fato de que Adão e Eva permaneceram marido e mulher após a queda e então tiveram filhos, homens e mulheres (Gênesis 5:4). Os filhos de Adão e Eva casaram-se e formaram famílias para si mesmos (Gênesis 4:17,19,26). A família humana permanece ainda hoje, não simplesmente como instituição para os crentes, mas para todas as pessoas.
O governo humano é também resultado da graça comum. Ele foi instituído no princípio por Deus após o dilúvio (ver Gênesis 9:6) e, segundo Romanos 13 claramente afirma, foi estabelecido por Deus: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. Está claro que o governo é dom de Deus para a raça em geral, pois Paulo diz que a autoridade “é serva de Deus para o seu bem” e que ela é “serva de Deus, agente de justiça para punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4). Um dos principais meios que Deus usa para refrear o mal no mundo é o governo humano. As leis humanas, as forças policiais e os sistemas judiciais proporcionam poderosa repressão às más ações, e esses são freios necessários, pois há muito mal no mundo que é irracional e pode ser restringido pela força, já que ele não será impedido somente pela razão ou pela educação. Obviamente a pecaminosidade das pessoas pode também afetar os governos em si mesmos, de forma que o governo humano, igual a todas as outras bênçãos da graça comum que Deus dá, pode ser usado tanto para o propósito do bem como do mal.


6. A esfera religiosa. Mesmo na esfera da religião humana, a graça comum de Deus traz algumas bênçãos para as pessoas incrédulas. Jesus nos diz: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mateus 5:44), e desde que não há qualquer restrição no contexto para que se ore simplesmente pela salvação deles e como a ordem de orar pelos que nos perseguem é combinada com a ordem de amá-los, parece razoável concluir que Deus pretende responder a nossas orações pelos que nos perseguem em muitas áreas de suas vidas. De fato, Paulo especificamente ordena que oremos “pelos reis e por todos os que exercem autoridade” (1 Timóteo 2:2). Quando procuramos o bem dos descrentes, isso é coerente com a própria prática divina de conceder sol e chuva a “maus e bons” (Mateus 5:45) e também está de acordo com a prática de Jesus durante o Seu ministério terreno, quando Ele curou cada pessoa que lhe era trazida (Lucas 4:40). Não há indicação alguma de que ele tenha exigido que todos cressem nele ou concordassem que ele era o Messias antes de lhes conceder cura física.
Deus responde às orações dos descrentes? Embora Deus não tenha prometido responder às orações dos descrentes como prometeu responder às orações dos que vêm a Ele em nome de Jesus, e embora Ele não tenha obrigação de responder às orações dos descrentes, mesmo assim Deus pode por Sua graça comum ouvir e responder positivamente às orações deles, demonstrando dessa forma Sua misericórdia e bondade de outro modo ainda (cf. Salmos 145:9,15; Mateus 7:22; Lucas 6:35,36). Esse é provavelmente o sentido de 1 Timóteo 4:10, que diz que Deus é o “Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem”. Aqui “Salvador” não significa restritamente “quem perdoa pecados e dá vida eterna”, porque tais coisas não são dadas aos que não crêem. “Salvador” deve ter aqui um sentido mais geral — a saber, “quem resgata da miséria, quem liberta”. Em caso de pobreza e miséria, Deus muitas vezes ouve as orações dos descrentes e os livra graciosamente de seus problemas. Além disso, mesmo os descrentes muitas vezes possuem um senso de gratidão para com Deus pela bondade da criação, pela libertação em meio ao perigo e pelas bênçãos da família, do lar, das amizades e do país.


7. A graça comum não salva pessoas. A despeito de tudo isso, devemos perceber que a graça comum é diferente da graça salvadora. A graça comum não muda o coração humano nem traz pessoas ao genuíno arrependimento ou à fé — ela não pode salvar e não salva pessoas (embora na esfera intelectual e moral ela possa preparar as pessoas para torná-las mais dispostas a aceitar o evangelho). A graça comum refreia o pecado, mas não muda a disposição fundamental de pecar nem purifica a natureza humana decaída.
Devemos também reconhecer que as ações que os descrentes realizam por causa da graça comum não merecem favor de Deus. Essas ações não são motivadas pelo amor a Deus (Mateus 22:37), e sim pelo amor ao ego sob uma ou outra forma. Portanto, embora possamos prontamente dizer que as obras dos descrentes que se conformam externamente às leis de Deus são “boas” em algum sentido, contudo elas não são boas em termos de merecer a aprovação de Deus nem de tornar Deus endividado para com o pecador em sentido algum.
Finalmente, devemos reconhecer que os descrentes muitas vezes recebem mais graça comum que os crentes — eles podem ser mais habilidosos, trabalhar com mais esforço, ser mais inteligentes, mais criativos ou ter mais dos benefícios materiais desta vida para desfrutar. Isso não indica de forma alguma que eles são mais favorecidos por Deus no sentido absoluto ou que eles vão ganhar qualquer coisa relativa à salvação eterna, mas significa somente que Deus distribui as bênçãos da graça comum de vários modos, muitas vezes concedendo bênçãos bastante significativas a descrentes. Em tudo isso, obviamente, eles devem tomar consciência da bondade de Deus (Atos 14:17) e reconhecer que a vontade revelada de Deus é que essa “bondade de Deus” finalmente os conduza “ao arrependimento” (Romanos 2:4).


C. Razões para a graça comum


Por que Deus concede graça comum a pessoas imerecedoras que nunca virão à salvação? Podemos sugerir ao menos quatro razões.


1. Para redimir os que serão salvos. Pedro diz que o dia do juízo e da execução final de punição está sendo retardado porque há ainda mais pessoas que serão salvas. “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9,10). De fato, essa razão foi verdadeira desde o princípio da história humana, pois, se Deus quisesse salvar qualquer pessoa entre todos que compõem a humanidade pecaminosa, Ele não poderia destruir todos os pecadores imediatamente (nesse caso não sobraria ninguém da raça humana). Ao contrário, Ele resolveu permitir que seres humanos pecaminosos vivessem algum tempo de modo a ter uma oportunidade de arrependimento e também para que pudessem gerar filhos, capacitando gerações subseqüentes a viver, a ouvir o evangelho e se arrepender.


2. Para demonstrar a bondade e a misericórdia de Deus. A bondade e a misericórdia de Deus não são vistas somente na salvação dos crentes, mas também nas bênçãos que Deus dá aos pecadores que não as merecem. Quando Deus “é bondoso para com os ingratos e maus” (Lucas 6:35), essa bondade é revelada no universo, para a Sua glória. Davi diz: “O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas” (Salmos 145:9). Na história de Jesus conversando com o moço rico, lemos: “Jesus olhou para ele e o amou” (Marcos 10:21), embora o homem fosse um descrente que no mesmo instante afastou-se de Jesus porque possuía muitas riquezas. Berkhof diz que Deus “derrama incontáveis bênçãos sobre todos os homens e também indica claramente que elas são expressões de uma disposição favorável de Deus que, contudo, fica muito aquém da volição positiva exercida para lhes perdoar, suspender a sentença a eles imposta e assegurar-lhes a salvação”.
Não é injusto Deus retratar a execução da punição do pecado e dar temporariamente bênçãos aos seres humanos, porque a punição não é esquecida, mas apenas retardada. Retardando a punição, Deus mostra claramente que não tem prazer em executar o juízo final, mas, ao contrário, Ele se deleita na salvação de homens e mulheres. “Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o SENHOR, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam” (Ezequiel 33:11). Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Em tudo isso o tempo de espera da punição dá uma evidência clara da misericórdia, bondade e amor de Deus.


3. Para demonstrar a justiça de Deus. Quando repetidamente Deus convida os pecadores a virem à fé e repetidamente eles recusam os Seus convites, a justiça de Deus em condená-los é vista muito mais claramente. Paulo adverte que quem persiste na incredulidade está simplesmente acumulando a ira para si mesmo: “Contudo, por causa da teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Romanos 2:5). No dia do juízo todas as bocas serão silenciadas (Romanos 3:19), e ninguém será capaz de contrapor que Deus foi injusto.


4. Para demonstrar a glória de Deus. Finalmente, a glória de Deus é mostrada de muitas formas pelas atividades dos seres humanos em todas as áreas nas quais a graça comum está em operação. No desenvolvimento e no exercício do domínio sobre a terra, homens e mulheres demonstram e refletem a sabedoria do seu Criador, comprovam as qualidades dadas por Deus, as virtudes morais e a autoridade sobre o universo, e coisas semelhantes. Embora todas essas atividades sejam contaminadas por motivos pecaminosos, elas apesar disso refletem a excelência de nosso Criador e, portanto, trazem a glória a Ele, não de forma plena e perfeita, mas ainda assim significativa.


D. Nossa resposta à doutrina da graça comum


Pensando sobre as várias espécies de bondades vistas na vida dos descrentes por causa da graça comum que Deus dá abundantemente, devemos ter em mente três pontos.


1. Graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Mesmo uma porção excepcional de graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Até as pessoas mais habilidosas, mas inteligentes, mais ricas e poderosas no mundo ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenadas eternamente! Os nossos vizinhos mais bondosos e de moral mais elevada ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenados eternamente! Exteriormente pode parecer que eles não têm necessidade algumas, mas a Escritura ainda diz que os descrentes são “inimigos de Deus” (Romanos 5:10; cf. Colossenses. 1:21; Tiago 4:4) e são “contra” Cristo (Mateus 12:30). Eles são “inimigos da cruz de Cristo” e “só pensam nas coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19), sendo “por natureza merecedores da ira” (Efésios 2:3).


2. Devemos ter cuidados em não rejeitar as coisas boas que os descrentes fazem, considerando-as totalmente más. Pela graça comum os descrentes fazem algumas coisas boas, e devemos ver a mão de Deus nelas, sendo agradecidos por elas, como por exemplo nas amizades, em cada ato de bondade, no que elas trazem de bênçãos para outras pessoas. Tudo isso — embora o descrente não o saiba — procede em última análise de Deus, e Deus merece a glória por tudo.


3. A doutrina da graça comum deveria estimular nosso coração à gratidão muito maior a Deus. Quando descemos uma rua e vemos casas, jardins e famílias vivendo em segurança, ou quando negociamos no mercado e vemos os resultados abundantes do progresso tecnológico, ou quando andamos pelos bosques e vemos a beleza da natureza, ou quando somos protegidos pelas autoridades, ou quando somos educados no vasto conhecimento humano, devemos perceber não somente que Deus, em Sua soberania, é o responsável último por todas essas bênçãos, mas também que Deus as tem concedido aos descrentes, embora eles não tenham absolutamente nenhum mérito com relação a elas! Essas bênçãos no mundo não são apenas evidências do poder e sabedoria de Deus, mas a manifestação contínua da Sua graça abundante. A percepção deste fato deveria fazer nosso coração se encher de gratidão a Deus em cada atividade de nossa vida.


Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Editora Vida Nova, págs. 297-304

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vamos cantar com Ana Caram?






Entrevista com Ana Caran

Destaque do Jazz mundial, Ana Caram, fala sobre conversão

Ana Caram nasceu em Presidente Prudente, interior de São Paulo, em 1958. Aos 13 anos de idade já gravava jingles e ganhou vários prêmios interpretando canções próprias em festivais. Fez estudos de composição e regência na Unicamp, cantou em casas noturnas e viajou pelo mundo apresentando a música popular brasileira em países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e em lugares da Europa e África. Reconhecida por publicações importantes como o jornal New York Times, Ana foi citada por uma revista especializada entre os duzentos maiores cantores de jazz do mundo. Seu primeiro CD contou com a participação dos músicos Tom Jobim e Paquito D’Rivera e ajudou a difundir a bossa nova pelo mundo.

Mesmo no alto da fama e com uma carreira promissora, Ana afirma que nunca havia sentido paz e verdadeira realização, até que um dia encontrou esperança nas páginas da Bíblia Sagrada. Ana superou o preconceito que tinha contra o cristianismo, estudou as Escrituras e, finalmente, descobriu novo sentido para a vida. Ou seria a verdadeira “bossa nova”? A palavra “bossa” era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinquenta, significava “jeito”, “maneira”, “modo”. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que essa pessoa tinha “bossa”. Graças a Jesus, Ana descobriu um novo jeito de viver – o único que traz verdadeira paz.
Batizada em 2005 na Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde então vem usando seu talento para honrar o nome de Deus. Nesta entrevista concedida a Michelson Borges, ela conta mais detalhes dessa bonita história de conversão.

Fale um pouco sobre sua infância numa família de músicos.
Fui criada num ambiente extremamente musical. Meu pai, Jamil Caram, grande músico de seresta e chorinho, toca violão, cavaquinho e bandolim. Somos cinco filhos, duas mulheres e três homens. Todos tocam e cantam. Os fins de semana sempre foram marcados por muita música e amigos em casa. Comecei a cantar em festinhas na escola e encontros em família. Compus minha primeira música aos dez anos de idade. Aos treze anos, gravei meu primeiro jingle. Cantei em festivais e sempre ganhei em primeiro e segundo lugar, e recebi também prêmios de melhor intérprete.

Como foi o início de sua carreira musical profissional e que decepções enfrentou nesse meio?
Comecei a cantar na noite em São Paulo e fiz isso por alguns anos. Um dia resolvi mudar para o Rio de Janeiro com o propósito de ser famosa; esse era o meu maior sonho. O Rio sempre foi a capital dos sonhos da fama.
Conhecendo pessoas do meio artístico, pude perceber que era impossível ter sucesso sem ceder meus princípios. O sentimento que eu tinha era de inadequação ao mundo e isso me deixava bem triste, pois queria alcançar o sucesso apenas com o meu talento, o meu trabalho. Sentia no coração um vazio e atribuía isso à falta de reconhecimento do meu trabalho musical. Desencadeou-se um processo de depressão muito forte. Eu chegava a passar dias num quarto fechado, sem comer, tomar banho; não queria ver ninguém.
Então fui buscar ajuda primeiramente em terapias e, depois, em seitas, religiões, centros espíritas de varias linhas, e nada de saciar minha sede e preencher meu vazio.
Um dia fui convidada por um grande músico saxofonista norte-americano, o Paquito D’Rivera, para ir à Finlândia com ele e realizar shows em festivais de jazz. Aceitei o convite e foi um sucesso total. Então pensei: “Agora minha vida vai dar certo e adeus tristezas.” Depois fui para Nova York com o Paquito. Ele me convidou para cantar com a banda dele no Carnegie Hall, no maior festival de jazz do mundo.

Nessa noite, depois da apresentação, você chorou no camarim. Por quê?
Eu achava que tudo iria mudar e que eu finalmente seria feliz. Mas, quando cheguei ao camarim, senti uma solidão enorme, embora houvesse um monte de pessoas querendo conversar comigo. Foi um sentimento dúbio. Depois daquele show, assinei contrato com uma gravadora e fiquei morando nos Estados Unidos. Gravei nove CDs pela Chesky Records. O primeiro teve participação de Tom Jobim e do próprio Paquito. Então comecei a viajar muito. Fui citada nos maiores jornais e revistas do mundo do jazz. Mas minha vida continuava na mesma solidão e o vazio profundo persistia no coração. Em meio a essas viagens, eu continuava buscando com afinco alguma coisa que explicasse esse sentimento. Em cada hotel em que ficava, depois dos shows e entrevistas, eu chorava de solidão e desespero.

Você também buscou orientação na astrologia e nos conselhos de uma “guru”. Isso ajudou?
Ajudava momentaneamente, porém pouco. O astrólogo sempre falava quase a mesma coisa. Às vezes, me atrapalhava e muito, pois ficava esperando que o que ele dizia iria dar certo.

Você também experimentou o culto do Daime. Como foi isso?
O culto do Daime foi uma das piores coisas que fiz. Tomei um líquido horrível pensando que iria sair dali com a paz que eu sempre busquei. Acredito que as pessoas que estavam ali comigo também buscavam o mesmo que eu. Saí dali razoavelmente bem, mas dois dias depois a queda foi pior.

Esse tipo de sentimento é comum no meio artístico?
As pessoas no meio artístico estão sempre procurando engrandecer o ego. O artista geralmente é egocêntrico. Ele busca a fama custe o que custar e quando a alcança vê que ela não preenche o vazio que ele sente. Então continua suas buscas em relações, bebidas, aventuras. E isso não tem fim.

O que você pensava a respeito de Deus, de religião e dos religiosos, nessa época?
Acreditava que Deus era uma “força maior”, uma energia. Achava que Deus era bom, mas que, às vezes, castigava. Sempre tive preconceito com relação aos crentes, aos que andavam com a Bíblia embaixo do braço. Pensava que eram pessoas ignorantes, fanáticas e que achavam que tudo que era bom era proibido. Na verdade, eu mal sabia que muitas coisas consideradas boas para o “mundo” são más e nos levam cada vez mais para longe dEle.


Por que resolveu voltar ao Brasil?
A família e os amigos para mim são preciosos e eu sentia muita falta de todos.

Como foi seu primeiro contato com a mensagem bíblica?
Certo dia, um amigo do meu esposo, o Kiko Cardoso, esteve em nossa casa pela primeira vez e senti algo diferente nele. Depois soube que ele era crente. Ele nos convidou para irmos ao estudo bíblico na casa da irmã dele, a Aline. Achei o convite meio esquisito, pois não tinha vontade de ler a Bíblia, por puro preconceito. Mas a Aline foi à nossa casa e no primeiro contato gostamos muito dela. Então aceitamos o convite e fomos ao estudo. Meu esposo, o Marcelo, havia perdido o pai fazia pouco tempo. Ele estava muito triste e o estudo da Bíblia o confortou. Deu-lhe esperança.


Nessa época, vocês já tinham um filho. A paternidade influenciou de alguma forma essa busca de Deus?
Sim, influenciou também, pois meu esposo e eu não queríamos criar nosso filho num mundo tão cheio de maldade, sem uma religião.

Depois de começar a estudar a Bíblia, o que mudou em sua vida? Por que a Bíblia, diferentemente de outras “filosofias de vida” que você tentou seguir, fez sentido para você?
Quando comecei a estudar a Bíblia, conheci a pessoa de Jesus e me encantei com os ensinamentos dEle: o amor verdadeiro e o perdão. Entendi que existe vida eterna e, por conseguinte, a perfeição. Aprendi que Jesus me ama tanto a ponto de dar a vida por mim. Essa é a verdade que encontrei e que me trouxe paz, a paz que tanto busquei por quase trinta anos. Era bom demais saber que o Criador do Universo Se preocupa comigo e me oferece a vida eterna em plena perfeição ao lado dEle! Eu só poderia dizer humildemente: “Obrigada, Senhor!”
Depois de tudo o que vivi, eu sei e posso dizer que encontrei finalmente a Verdade, porque toda essa vivência que eu tive antes não me trouxe a paz que sinto hoje. Agora posso dizer: “Sou livre em Jesus Cristo! A verdade me trouxe paz e liberdade. Me sinto feliz em ser diferente do mundo e em estar no caminho oposto ao do mundo, e quero contar a todos que Jesus Cristo me salvou!”


Como seus amigos, colegas de profissão e familiares encararam sua mudança?
No começo, minha família ficava fazendo chacota por causa das mudanças de hábito, principalmente no que diz respeito à alimentação. Quanto aos amigos, a maioria foi se afastando aos poucos. Pouquíssimos estão ainda por perto e manifestam algum interesse. Mantive um grupo de estudos bíblicos em minha casa, em São Paulo, durante quatro anos, e muitos amigos passaram por lá. Foi uma bênção.

Você foi batizada em 2005. A partir de então, você começou a usar seu talento e conhecimentos para louvar a Deus. Mas o que mudou em sua música?
Mudou a maneira de cantar, pois hoje eu canto o que vivo. Cantar e falar do amor de Deus é o mais sublime sentimento.

Em sua opinião, qual a música ideal para adorar a Deus?
Penso que a música ideal para adorar a Deus seja aquela calma, mas ao mesmo tempo alegre, pois é uma forma de oração e deve refletir nossa gratidão a Deus por tudo o que Ele é e tem feito por nós. Quando louvamos, nosso coração deve sentir paz; isso quer dizer que o Espírito de Deus está presente.
Suas canções são caracterizadas pela tranquilidade e simplicidade. Como encara o atual predomínio de instrumentos percussivos e de certos “malabarismos” vocais que mais parecem chamar atenção para o cantor do que para Deus?
Cada cantor tem sua maneira de louvar a Deus. Resta saber se, depois de uma mensagem musical, todos os que estavam ouvindo sentiram a presença do Espírito Santo de Deus e se o próprio cantor saiu repleto de paz.

Você deixou de lado dinheiro, fama e prestígio. O que lhe traz felicidade atualmente?
Hoje o que mais me deixa feliz é poder, do púlpito, compartilhar o amor do nosso maravilhoso e misericordioso Deus; esse Deus que mudou minha vida.


Qual sua motivação para cantar e testemunhar?
É saber que, por meio do canto e do testemunho, Deus pode me usar para ajudar uma pessoa a tomar a decisão ao lado dEle.


Deixe uma mensagem para o leitor.
Querido irmão de fé, já ouço os passos de Jesus voltando para nos buscar. Por favor, reavivemos nossa vida, nosso coração com muita comunhão. Somente assim poderemos pregar o evangelho por meio de nossas atitudes, afeto e vida, para que as pessoas sintam que, na essência, somos diferentes, porém, felizes. Deus nos abençoe. Amém!

Fonte: Blog Michelson Borges

sábado, 10 de setembro de 2011

Anseio Antigo






Anseio Antigo
Gláucia de Carvalho/Wadislau M. Gomes/João Inacio

Dá-me um irmão que saiba amar
De lábios que construam a verdade
De olhos que desvendem par a par
Os rumos da justiça e bondade

Dá-me uma mão que queira me afagar
Que queira ter no calor das minhas mãos
O alimento, o acalanto... pra cessar
A dor de suas lágrimas.

Oh, dá-me um irmão a quem eu ame
Sem egoísmos e sem competição.
Que com Deus queira ser um.
Que em Deus seja mais um

Com amizade e lealdade a espantar O frio dos corações.
Dá-me um irmão que seja meu amigo.
Sem que despreze os demais irmãos
Pra que o amor quando for antigo, inspire a união de outras mãos.