sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De amigos... (Dias Velozes)

Hoje eu vou postar um poema do meu amigo poeta  J. F. Aguiar:


Os dias são velozes
O tempo é contabilizado
Não há tempo para pausa
Não há tempo para escuta
Os dias são velozes
Os dias são vorazes
Há uma distância
São poucos os ouvidos
Era da informação
Muita transmissão
Pouca percepção
Pouca reflexão
Há uma ficcionalização
Do horror, do banal
Em dias velozes
Como sentir as flores
Aroma de remorso?...
Ou perfume de confissão?...
Dias velozes
Não são belos, não são feios
São grotescos
Eu clamo por lentidão
Lugar para se sentar
E perceber que não basta Twittar
Na lentidão damos as mãos
Sentimos o frio, o calor
E o pulsar dos corações
Tudo isto são pétalas
Que precisam de receptáculos
Em vidas mais lentas
Virão as flores
As saudosas abelhas
E dias mais doces...


( Texto retirado do "Blog: Virtude Maior"  de J. F. Aguiar )

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Hospitalidade




Sobe a encosta e vem. Quero ser tua amiga. Não é muito cansativo. Minha pequenina casa fica no começo da montanha, além do caminho da pedra. Após este, há uma bica. Segue o trilho à sua esquerda e em 20 metros terás chegado.
Não é preciso bater. Gira a maçaneta e entra sem receio. Estás em casa. Encosta a porta novamente, por favor, o vento é sempre forte.
Senta-te e descansa. Se estiver por perto, virei logo ver-te. Se isso não acontecer, dá mais uns passos e entrarás na copa-cozinha, onde acharás a mesa posta e no fogo, o bule em banho-maria. Toma do chá, serve-te de leite, pão caseiro, creme, queijo e geleia.
Como hás de ver, tudo é simples: louças, talheres, toalhas; único luxo, o asseio, as flores e as samambaias dependuradas no alto.
Falaremos de muitas coisas: da sabedoria, poder e bondade do Criador, que nos deu um mundo tão belo...
dos queridos que já se foram...
dos bons amigos e vizinhos...
de saudade e esperança.
Cantaremos melodias antigas, repetiremos belos salmos e assistiremos ao maravilhoso pôr-do-sol.
Partirás, se quiseres e quando quiseres. E, partindo, o único presente que levarás desse remanso humilde, mas, feliz, serão lembranças que talvez guardes por muito tempo: o friozinho montanhês, o canto dos passarinhos, o murmúrio da corrente, o sabor do mel silvestre, o pão de queijo cheirando no forno...
 o calor da amizade e da paz. Oh! Aquela paz que o mundo não pode dar nem tirar.

Blanche Gomes Lício  (Mestra, poetisa e musicista)