terça-feira, 10 de março de 2015

Sem Tempo de Pensar em Amar




Já imaginou um mundo onde não se tem tempo para pensar em amar? O amor, sentimento mal-entendido; mal-vivido; mal-experimentado; mal-interpretado; mal-utilizado.
Como seres humanos sociais necessitamos do toque, do carinho, do afeto... do amor. Existem seus extremos: pessoas que amam demais; pessoas que não sabem amar; pessoas desenganadas pela falta de amor; pessoas desencantadas do amor. Na maioria das teorias de Freud, o sexo é vital. Na minha teoria sobre a vida, o amor é vital. Creio que tirei de algum livro. Deixe-me tentar lembrar: ah, um livro chamado Bíblia que define Deus com uma palavra: Amor. Deus é amor. Se o Criador é amor, imagino que Ele espere que toda atitude, toda escolha nossa seja feita tendo o amor em perspectiva.
O que tornou o mundo tão acelerado que não nos dá tempo para pensar no amor e nem amar? O que buscamos que é mais importante do que o amor? O que digo quando pronuncio a palavra amor? Não me refiro ao amor novelesco, melodramático mostrado pela mídia em livros, telenovelas, filmes ou romances. Nem o amor que cresce do porno (necessidade a ponto de devorar); Eros (muitas vezes um desejo a ponto de ter sexo com quem se oferecer ou eu puder “pegar”) e nem ao Ágape (um amor que não existe nada em troca- que se doa sem retorno- este creio ser possível somente de Deus para com os homens).
Refiro-me ao amor em sua integridade, onde valoriza-se o ser amado e se quer o melhor para ele ou ela. Refiro-me ao amor cumplicidade, onde se pode confiar no outro e se tem a confiança do outro de que no momento de separação ou ira não se expõe a intimidade do outro aos olhos ou ira pública.
Refiro-me ao amor Philia intercalado com Eros, Storge (carinho) e ágape, mas humano. Aquele no qual se consegue perdoar os defeitos do outro e ajudá-lo a crescer em todas as áreas de sua vida.
O que o mundo pós-moderno fez com as pessoas que os leva a trabalhar incessantemente para obter coisas, e lhes rouba a capacidade de ter tempo para pensar em amar?
Atualmente, o ter tomou o lugar do ser. Crianças “necessitam” de smartphones, bicicletas elétricas, velocípedes elétricos, mini carros elétricos, purfy (um animal feio de pelúcia que pode ser alimentado e cuidado via celular, que custa quase um salário mínimo no Brasil), coleção de bonecas para decorar o quarto, deixando-o até pequeno para tantos brinquedos da moda. E o amor, o afeto, o toque e o tempo brincando com os pais? Trabalham-se horas incessantes para dar “mimos” para os filhos, quando o essencial lhes falta. Diálogo, amor, brincadeiras que nem custariam tanto quanto os brinquedos eletrônicos, os videogames atualizados e hot zone de shoppings onde as crianças se divertem com mais jogos.
Desculpem-me lhes reportar à minha infância: brincávamos de pega-pega na rua; queimada (jogava a bola para o alto e todas as crianças corriam, quem pegasse a bola tentava pegar uma outra criança e esta seria a próxima a tentar “queimar” a outra e assim por diante); bandeirinha ou pique-bandeira (dois times tentando pegar uma bandeira no campo do outro time); contar até dez com o rosto encostado na parede enquanto os outros corriam e se escondiam; brincar de roda; macaca; pular corda; tênis de mesa, estátua…enfim, todas as brincadeiras que não custavam nada, no meio da rua com outros coleguinhas.
Televisão somente até as 20:00 porque tínhamos que acordar muito cedo para ir à escola, que, diga-se de passagem, não admitia atrasos mais de 15 minutos. E íamos alegres, pois lá nos encontrávamos com os colegas, e repetíamos os mesmos jogos da rua durante o intervalo. Levávamos nossas merendas nas lancheiras. Sanduíche, um ovo cozido, suco caseiro… Não havia cantina, lanchonete, porque os pais faziam os lanches de seus filhos em casa, muito mais econômico.
Hoje, os celulares e ipads e laptops invadiram o social. Os amigos de longe esvaziaram os diálogos com quem está presente. Em qualquer restaurante que se vai podem-se observar adolescentes, adultos, casais, famílias inteiras entretidas cada uma com seu celular, mensagens, facebook, etc. e o diálogo já foi para o espaço. Em reuniões familiares festivas: natal, ano novo, aniversários, até mesmo infantis o celular e estes “gadgets” (brinquedos eletrônicos) tomaram o espaço da brincadeira, das conversas jogadas fora, das piadas, das fofocas colocadas em dia…
Questiono-me o por quê da troca do real pelo virtual: o virtual pode ser inventado. Não se precisa ser quem realmente se é. Pode-se inventar qualquer coisa: nome, profissão, até mesmo sentimentos, contanto que conquiste o do outro lado, que por sua vez também não aceitando quem é na realidade, ou quem pensa que é, cria um mundo virtual mais agradável, menos comprometedor e mais prazeroso. Na vida real existe a possibilidade de crescer, roçando ombro a ombro, olhando nos olhos, sendo confrontado com suas sombras. Isto não é nada agradável.
Contudo, neste mundo que exige tanto do ser humano e lhe dá tão pouco de real e duradouro, ainda bato na tecla de que o amor, o toque, o afeto e a troca entre seres humanos é mais saudável, do que toda esta tecnologia e consumismo que nos cerca.
Se pudesse lhe dizer algo para gravar em sua mente, seria: Pare de correr atrás de objetos materiais, e arranje tempo para pensar em amar! A vida pode ser aproveitada e boa nas coisas mais simples!

Texto de Silvia Geruza F. Rodrigues




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