quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Aos Que Sustentam Cordas - Myrtes Mathias


Nessa hora de lembrança e gratidão,
eu me lembro das mãos que sustentam as cordas
dos que descem ao fundo das minas
e dos mares, em busca de tesouros.
Há uma dignidade santa nessas silenciosas mãos,
nem sempre lembradas quando surgem os tesouros:
a alegria é tanta que pouco tempo resta
para pensar naqueles que realizaram um papel
injustamente considerado de menor valor.
Benditas mãos que talvez nunca cheguem
até onde chega a bênção de sua dádiva.
Ignoradas, diligentes, incansáveis mãos
de professoras, funcionários, estudantes,
operários, donas de casa;
frágeis mãos de crianças, que engraxam sapatos,
vendem laranjas, colocam moedas num porquinho
de plástico para dar uma oferta bonita no
Dia Especial.
Também elas se ferem,
cobrem-se de calos, passam a ostentar
as gloriosas cicatrizes que o esforço
confere como uma condecoração.
Para que citar nomes, se isto não as tornaria
mais felizes que o prazer de servir,
que as levou a passarem horas segurando uma pena,
preparando lições, tricotando casaquinhos de lã,
batendo bolos, pedalando uma máquina de costura
e até se estendendo para pedir emprestado
porque a Obra é urgente e esperar não pode.
Para que citar nomes que Deus já tem escrito
no eterno Livro com letras de ouro?
Nesse instante de lembrança e gratidão,
em nome dos doentes que serão curados,
das crianças que aprenderão a ler,
dos bebês vestidos e alimentados,
das almas simples que se encontram com Jesus,
dos trabalhadores da seara que receberão
no fim do dia o seu salário;
em nome dos irmãos humildes, que nos atalhos
distantes do sertão, à luz do luar ou das lamparinas
caminham com passos ligeiros
em direção do templo novo,
pintado de branco,
para louvar a Deus,
eu me ajoelho para agradecer as silenciosas
e ignoradas mãos que sustentam as cordas
para que os enviados possam descer ao vale,
em busca do tesouro que são as almas dos homens.
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